domingo, 25 de maio de 2014

Revelando a fraude em Uberaba

Luciano dos Anjos, falecido recentemente, foi um dos protagonistas das famosas "materializações de Uberaba" ocorridas em 1964. Juntamente com Jorge Rizzini, ele participou de alguns dos debates públicos contra os repórteres da revista "O Cruzeiro" que anunciavam ter desmascarado as fraudes na sessão de materialização do dia 3 de janeiro de 1964. Luciano publicou no ano passado o opúsculo "Iluminando os Bastidores" sobre as materializações e estava preparando uma parte final sobre o mesmo assunto conforme vinha me informando por email.

Desde 2008 conversava com o Luciano. Normalmente era eu perguntando sobre variados temas e ele respondendo. Em dezembro de 2010 iniciei uma conversa informando sobre o lançamento do livro "Fotógrafo dos Espíritos" do fotógrafo das materializações. Daí ele me responde:

"Espero que em algumas fotos, se incluídas, ele tenha feito as ressalvas necessárias. Por exemplo: uma delas foi motivo de aborrecimento meu com o Waldo, que entregou aos repórteres de O Cruzeiro e sabíamos que era um médium que fraudava. Fiquei indignado com o Waldo, que apenas me justificou cinicamente: “Foi junto, no meio do bolo...”"

Os médiuns principais das sessões de materialização eram Otília Diogo e Antonio Alves Feitosa. Embora imaginasse que Luciano se referia ao Feitosa (dado que usou a expressão "um médium") fiz questão de confirmar a informação. Depois de seis meses e mais de duas dezenas de emails trocados finalmente Luciano me confirma:

"[a foto] não era da Otília, mas de outro médium, que está esparramado numa cadeira, com “ectoplasma” escorrendo pela boca e narinas. Foi estampada por O Cruzeiro. Não está na jaula."

A foto a que Luciano se refere é esta:

Waldo Vieira a esquerda e Chico Xavier a direita
no centro Antonio Alves Feitosa e Irmã Josefa
páginas 11 e 12 da edição de 18 de janeiro de "O Cruzeiro"

Mas, há outra foto publicada no livro do fotógrafo Nedyr Mendes da Rocha igualmente interessante:

Antonio Alves Feitosa
página 73 de "Fotógrafo dos Espíritos"

É evidente que não precisaria do Luciano confirmar a fraude já que a foto por si só já a denuncia. A simulação de materialização de mãos usando luvas de borracha e o cordão ligando uma narina a outra são suficientes para concluir pela fraude. Porém, o testemunho ainda que tardio de alguém que protagonizou a estória tem um valor considerável.

Continuei, então, minhas perquirições a respeito deste médium. Enviei uma pergunta ao Waldo Vieira através de sua tertúlia no dia 17 de abril de 2011:

 
O médium Antônio Alves Feitosa participou de algumas sessões de materialização ao lado da médium Otília Diogo em 1963. Este médium também fraudava?
Olha, eu não tive contato com este médium. Não tenho nada para depor a favor ou contra. Não sei.

Resposta estranha pois Feitosa participou como médium principal nas sessões de materialização de novembro de 1963 sob a coordenação do próprio Waldo. Além disso, Feitosa também participou de uma sessão um dia antes da sessão com os repórteres de "O Cruzeiro". Provavelmente não participou desta sessão porque Waldo sabia que Feitosa poderia ser desmascarado pelos repórteres.

Em agosto de 2011 Luciano dos Anjos me convenceu a não divulgar esta informação sobre Feitosa até que um estudo mais abrangente fosse compilado. Segui, assim, fazendo novas indagações a ele. E, dessa forma, fiquei sabendo que Chico Xavier presenciou no apartamento de Wando, irmão de Waldo Vieira, o Luciano contestando Waldo sobre a foto do médium Feitosa ter sido disponibilizada ao "O Cruzeiro". Luciano informou também que pelo menos mais dois médicos (pesquisadores) sabiam que Feitosa fraudava, além de Chico e Jorge Rizzini.

Aguardava ansiosamente que Luciano publicasse a parte final de sua série sobre as materializações de Uberaba. Infelizmente, ele partiu antes disso. Certamente ainda tinha muito a contribuir para a história do espiritismo.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Elias Barbosa fala sobre o caso Otília Diogo

Em 21 de setembro de 2010 o doutor Elias Barbosa respondeu por email um questionário sobre o caso Otília Diogo.

Sobre a réplica dos médicos

A réplica dos médicos à revista "O Cruzeiro" foi assinada por Dr. Adroaldo Modesto Gil, Dr. Eurípedes Tahan Veira, e pelo senhor. Por que os outros médicos, incluindo o Waldo Vieira, também não assinaram? Efetivamente, quem redigiu o texto?

Na Olivetti de Irineu Alves, em sua residência, em São Paulo, escrevi as primeiras frases, depois completadas pelos colegas Adroaldo ( desencarnado a 14-09-1993 ) e Eurípedes. Apenas nós três, encarnados, estávamos presentes.

A réplica sugere que os repórteres já foram para a sessão com a intenção de desmascarar uma fraude. O senhor acha que algum deles chegou a acreditar na veracidade dos fenômenos durante a sessão?

Conscientemente, tudo leva a crer que nenhum repórter acreditou na veracidade dos fenômenos, porque esperavam que tudo fosse fraude.

Na réplica há a informação de que as fotos publicadas na revista "O Cruzeiro" foram fraudadas. Isto foi comprovado?

Não houve nenhuma comprovação.

Na réplica os médicos admitem "que médiuns sadios, reais, fraudam em determinadas condições, porquanto existe a mistificação inconsciente, positivamente involuntária". O senhor e os outros médicos tiveram esta preocupação com a médium Otília?

Em momento algum.

Sobre as experimentações

Os médicos iriam publicar um livro com os resultados das experiências de materialização. Sabemos que não foi publicado, mas existe algum material na forma de ensaios ou artigos para disponibilizar?

Não existe nenhum material disponível.

O senhor participou de novas sessões com a médium Otília Diogo após a sessão com os repórteres de "O Cruzeiro"?

Não.

No livro do Rizzini há uma transcrição de um debate onde o Dr. Alberto Calvo é questionado sobre o ectoplasma da médium. Ele diz que os médicos não colheram o ectoplasma... isto procede?

Colher de que forma o ectoplasma, se não dispúnhamos de nenhum aparelho para tanto?

Era normal a ligação da vitrola nas sessões com a médium?

Sim.

Sobre a sessão com os repórteres

O senhor estava presente na ocasião onde Rizzini sustenta que os repórteres violentaram a médium rasgando sua roupa? Se sim, poderia explicar como isto se deu? Em que momento foi?

Não estava presente quando tal fato poderia ter ocorrido.

No exame que a médium Otília Diogo foi submetida na presença dos repórteres ela teve que se despir completamente?

Não.

O senhor viu o repórter Nilo Oliveira simulando ter colocado uma substância invisível na vitrola? Dr. Alberto Calvo diz que o repórter chegou a falar sobre esta substância antes de começar a sessão.

Não.

O senhor estava presente durante a amarração feita na médium? Chico chegou a interferir nesta amarração? Ele disse alguma coisa?

Sim, cheguei a ajudar, inclusive assinando sobre o lacre do cadeado da jaula, onde foi colocada a médium.

Como a médium Otília aparentava após a sessão?

Tranquila, não entrando em detalhes sobre o que havia ocorrido.

Em sessões anteriores havia uma jaula para impedir a saída da médium nas experimentações. Onde estava a jaula?

Não havia, antes, jaula alguma. Só com a presença dos repórteres.

Os depoimentos dos repórteres gravados pelo Dr. Eurípedes Tahan Vieira aconteceram em que momento?

Não me lembro.

Sobre o clima após a sessão

Dr. Alberto Calvo disse, nas transcrições do livro do Rizzini, que ele estava esperando que fosse passar o final de semana em Uberaba. Porém, foi surpreendido pois a sessão de sexta seria a única. O senhor também esperava que houvessem mais sessões? No dia seguinte a sessão com os repórteres quem foi para São Paulo, além do Dr. Alberto Calvo?

Não sei.

Em uma reportagem que li na Internet dizia que o senhor se casou em janeiro de 1964, no mesmo mês da sessão com os repórteres. Rizzini escreveu num artigo para o especial Chico Xavier 60 anos de mediunidade que Chico e Waldo ficaram escondidos em um hotel em São Paulo por conta de ameaças. Eles participaram de seu casamento? O senhor chegou a ser ameaçado?

Chico Xavier foi testemunha do meu casamento, ocorrido na manhã de 25 de janeiro de 1964, em Uberaba/ MG. Nunca fui ameaçado por ninguém.

Sobre as fotos

Rizzini diz em seu livro que "em Andradas, as fotografias, distribuídas no centro não tinham o véu cobrindo"... o senhor chegou a ver estas fotos?

Não.

O senhor tem alguma foto mostrando ao mesmo tempo a médium e o espírito materializado?

Não.

Luciano dos Anjos, em transcrição do livro do Rizzini, admite que as fotografias de Alberto Veloso possuem "características de feminilidade". O senhor concorda?

E por que não poderia ocorrer?

O senhor ainda tem as 400 fotografias tiradas nas experimentações de 1963?

Não tenho foto alguma.

No laudo do Carlos Petit, de São Paulo, há a informação de que nas fotos havia "vestígios de emendas" no véu da Irmã Josefa. O senhor também percebeu isto?

Não.

Sobre questões diversas

Rizzini, ao final de seu livro (segunda edição), afirma que a médium começou a perder a mediunidade já em 1965 e foi pega em fraude em 1970. Nestes anos quais os locais onde ela produzia os fenômenos? Os médicos chegaram a desconfiar desta perda da mediunidade?

Pelo que eu saiba, não.

O senhor sabe quem é Elpídio Cardoso que se anunciou como "representante do sr. Jorge Rizzini" num dos programas da TV Tupi com os repórteres?

Não sei.

O senhor teve acesso ao material produzido por Nedyr Mendes Rocha (falecido recentemente), Irineu Alves, Edílio Monteiro da Silva e Henrique Oliveira, nas pesquisas feitas em Campinas, Itú e Cosmópolis, sobre a vida de Irmã Josefa e o passado de Otília Diogo?

Não.

O senhor conheceu ou teve informações sobre a família que criou a médium Otília?

Nenhuma informação a respeito da vida pregressa da médium.

A entidade Alberto Veloso chegou a se comunicar alguma vez? Existem registros do que esta entidade falou?

Desconheço qualquer registro.

O senhor tem o texto do repto dos repórteres?

Não.

O senhor tem a certidão de casamento da médium?

Não.

O senhor possui o documentário feito pelo Rizzini sobre o encontro da médium com os médicos?

A não ser o livro que ele, Rizzini, me entregou, em Uberaba, no dia 29/6/64.

Rizzini, em seu livro, diz que suspeitava muito da capacidade mediúnica do senhor Antonio Feitosa. O senhor sabe se este médium foi pego em fraude?

Não.

O senhor possui os artigos de Herculano Pires onde ele faz referência ao caso?

Não.

O senhor tem a gravação da voz de dona Otília e do espírito materializado da Irmã Josefa?

Não.

O senhor viu o rosto do espírito Alberto Veloso?

Sim.

O senhor chegou a tocar o espírito materializado? Chegou a apertar a mão do espírito?

Não.

O rosto do espírito materializado de Irmã Josefa era parecido com o rosto da médium?

Sim, como não poderia deixar de ser, desde que estudemos as obras clássicas que existem sobre a materialização de Espíritos. As palavras de Chico Xavier, que se encontram nas últimas páginas (324-325) do livro do Rizzini, são primorosas.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Consulta no NYT

O jornal "The New York Times" é publicado desde 1851. Naquela época o fenômeno das mesas girantes e falantes tinha virado febre nos Estados Unidos e um novo movimento espiritualista floresceu, o chamado "Modern Spiritualism". É possível fazer consultas específicas neste periódico a partir de vários filtros incluindo palavras-chaves e período.

Infelizmente, para nós espíritas, pouco ou nada se falou neste jornal do Espiritismo, a corrente francesa do movimento espiritualista daquela época. Porém, é possível encontrar alguns artigos sobre este movimento e, sobretudo, envolvendo as médiuns Fox, as primeiras a ganharem notoriedade e se firmarem como precursoras do movimento.

Por exemplo, indicando as palavras-chave "Margaret Fox" é possível encontrar alguns artigos interessantes como o "Done with the Big Toe - Margaret Fox kane Shows how Spirit Rapping is Produced" (ver abaixo). Segue o link da pesquisa:

Pesquisa de "Margaret Fox" no NYT de 1851 a 1889


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

III Colóquio Caminhos para o Espiritismo

No próximo dia 9 de dezembro Leopoldo Daré e Vital Cruvinel estarão no III Colóquio Caminhos para o Espiritismo em Ribeirão Preto apresentando seus trabalhos "As Vozes Reencarnadas na Obra de Kardec" e "Modelo Computacional da Evolução Espiritual através da Reencarnação". O evento é gratuito e tem início às 08:30. Clique na imagem abaixo para ir para a página de inscrição.


sábado, 4 de dezembro de 2010

Classificação Didático-histórica da Obra Kardequiana

UMA PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO DIDÁTICO-HISTÓRICA

DA CONTRUÇÃO DA OBRA KARDEQUIANA


Leopoldo Daré – 04 de novembro de 2010


Apresento uma proposta inicial de divisão e análise do trabalho de Kardec durante a construção e fundação do Espiritismo. Busquei basear-me, quase exclusivamente, nos próprios textos de Kardec. O texto abaixo é um "rascunho" inicial do trabalho, que precisará ser desenvolvido em mais detalhes, apresentando os dados que fundamentam a proposta. Publico o desenho inicial para pedir a colaboração dos interessados, com críticas e sugestões. Toda divisão didática é imperfeita, pois os fenômenos sociais são contínuos, e definir marcos divisores é uma artificialidade histórica que normalmente nos engana e reduz a complexidade dos movimentos de ideias. Entretanto, o esforço por criar esta divisão histórica tem o objetivo de evidenciar o processo evolutivo da construção do Espiritismo e dimensionar a importante influência da interação social na construção da obra kardequiana, identificando "as vozes reencarnadas" dos críticos e dos colaboradores que se manifestam nos textos.


1) Primeira Fase: Iniciação (1854-1857):

1a) Primeiros contatos – fase da aproximação (1853-1855): Caracterizada pela superação dos preconceitos (utilizar afirmativas de Rivail em seus textos pedagógicos). Inicia com as primeiras notícia sobre as mesas girantes, e termina com sua primeira participação em reunião mediúnica (efetivamente primeira reunião mediúnica, ou a primeira reunião que o convenceu?). Fonte principal: Obras Póstumas.


1b) O Aprendiz (1855-1857): Inicia com as primeiras reuniões mediúnicas sistemáticas até a publicação da primeira edição d'O Livro dos Espíritos. A adoção do pseudônimo Allan Kardec é o marco do "ritual de conversão". Nesta fase, a tarefa entregue a Kardec, pelos seus parceiros, é de identificar, organizar e divulgar os conhecimentos produzidos nas reuniões. A primeira edição d'O Livro dos Espíritos é a prova de demonstação da qualidade.


2) Segunda Fase: Construção Doutrinária – fase criativa (1857-1860/61):

Fase extremamente criativa, organiza-se o grupo de estudos da Sociedade Parisiense, formado pelos colaboradores que ficaram satisfeitos com o produto inicial materializado na primeira edição d'O Livro dos Espíritos. Kardec se fortalece no papel de intermediário criativo entre a produção mediúnica do grupo de estudos e a elaboração do corpo doutrinário. É a fase mais influente das "vozes reencarnadas" na obra kardequiana. Os textos são a manifestação de um trabalho coletivo que gravita em torno de Kardec e personifica-se através das lentes kardequianas.

Os conhecimentos elaborados na primeira fase são revisitados e tornam-se mais modernos, ajustando-se as contradições da primeira obra, e aproximando-se dos ideários socialistas de sua época (dados da comporação das duas primeiras edições do Livro dos Espíritos). Firma-se o vocabulário espírita em parceria com o grupo da Sociedade. São identificados os Espíritos basilares das obras espíritas (comparar as mudanças na lista dos Espírito no prolegomenos da primeira e segunda edição d'O Livro dos Espíritos, e as atas da Sociedade Parisiense publicadas na Revista Espírita).

Kardec reconhece, além de sua função de pesquisador, seu papel de teórico e educador. O pesquisador começa a perder espaço para o educador. Esta fase termina com a publicação da segunda edição d'O Livro dos Espiritos (na verdade, no âmbito de produção de conhecimento, extende-se até a publicação d'O Livro dos Médiuns, porém no âmbito de relações sociais, em 1860 inicia-se uma nova próxima fase: Dias de Luta)


3) Terceira Fase: Reconstrução Doutrinária - Dias de Luta (1860-1864) (utilizar as citações de Kardec na Revista Espirita)

Após sucesso da segunda edição d'O Livro dos Espíritos, livro que verdadeiramente fez sucesso de massa, Kardec se projeta como o maior nome francês do Espiritualismo Moderno, o qual passa a ser chamado de Espiritismo. Podemos dividir este períoco em dois movimentos de confronto:


3.a) Choques nas Relações Sociais Espíritas: Internamente, temos os conflitos dentro da Sociedade Parisiense (citação de artigos da Revista Espírita e de discursos em "Viagens Espíritas de 1862"). Este processo finaliza-se com o expurgo dos insatisfeitos, entre eles, médiuns fundamentais na Fase Criativa. Desta forma, parte importante dos fundadores do Espiritismo se distanciam da Sociedade Parisiense, como os méduns J.Roze, intermediário principal do Espírito de Verdade, e Honorine Huet, intermediário principal do Espirito São Luiz (apresentar a crítica de Kardec ao livro publicado por Roze no Catálogo Racional para Biblioteca Espírita, sobre Huet utilizar informações de livro não kardequiano). Como pano de fundo deste processo temos a discussão sobre a autoria dos livros de Kardec e a crítica a omissão dos nomes dos médiuns e dos Espíritos. A partir desta fase, os livros publicados abrem espaço para a divulgação dos autores espirituais, como no livro "Imitação do Evangelho", e na Revista Espírita aparecem os nomes dos médiuns (o conflito com a médium Japhet teria sido maior nestes anos?). Este expurgo centraliza, ainda mais, a liderança em Kardec, tornado-o não apenas a maior liderança espírita, mas o único fundador do Espiritismo. A nova geração que entra na Sociedade Parisiense, como o jovem Flammarion em 1861 com 18 anos, não conhecem a forma como "tudo começou" e serão reféns da sensação do "sempre foi assim", pensamento característico dos membros da segunda geração que incorpora-se a uma instituição criada anteriormente. Externamente à Sociedade Parisiense, antagonicamente e como possível alimentador do conflito interno, temos o fortalecimento da liderança de Kardec (Viagens espíritas de 1861 e 1862). Neste período temos o surgimento da Revista Espiritualista, do Espiritismo Racional, dos debates sobre o Espiritualimso anglo-americano, etc)


3.b) As Lutas Doutrinárias: Iniciam-se as críticas de literátos e da Igreja Católica (ver publicações da Revista Espírita). O caso mais significativo são as "Críticas de Émile Deschanel". Externamente, esta provocação cria a defesa intransigente dos princípios construídos na fase anterior. Internamente, no entanto, ocorre uma revisão doutrinária e ajustes na compreensão do espaço social do Espiritismo. O exemplo mais emblemático da reconstrução doutrinária, consequência das "Críticas de Émile Deschanel", é a modificação no conceito de Alma, Espírito e espírito (comparar as primeira e segunda edições de O Que é o Espiritismo). Esta mudança doutrinária, apesar de pequena, é característico da Fase de Lutas. Diferentemente dos trabalhos construídos na fase criativa, não baseia-se em comunicações mediúnicas, mas em soluções para proteger o Espíritismo das críticas externas. Nesta fase, as "vozes reencarnadas" fluem com maior limitação e maior controle do autor Kardec. Na Revista Espirita temos textos que comparam o Espirisimo com outras doutrinas. O artigo "União do Espiritismo e da Filosofia" na Revista Espírita de 1863, setembro e novembro, é marco da solução argumentativa tardia em resposta as "Críticas de Émile Deschanel". O fato do autor destes artigos não ser Kardec, sinaliza uma estratégia de proteção diferente. O choque com os críticos católicos encaminha e fortalece a posição dúbia kardequiana do confronto, resultando na publicação do livro "Imitação do Evangelho" (marco do fim desta fase de lutas). "Imitação do Evangelho" é um trabalho híbrido, com mensagens de médiuns do período criativo (pré 1861) e mensagens do período de lutas. Solidifica-se a finalidade educativa do Espiritismo, com a publicação do livro "Espiritismo em sua expressão mais simples". Temos a revisão sistemática das reeimpressões das Revistas Espíritas de 1858-1860, e da segunda edição d'O Que é o Espiritismo (não sei explicar o motivo, mas O Livro dos Espíritos não sofre revisões teóricas importantes, criando a contradição do conceito de Alma e Espírito com O Que é o Espiritismo)


4) Quarta Fase: Consolidação – Olhos para o Futuro (1864-1869)

Etapa de consolidação e confirmação da liderança, da centralização da produção de conhecimento, e da condução do movimento espírita em Kardec. Inicia-se com a publicação do texto "Autoridade da Doutrina Espírita" no livro "Imitação do Evangelho" e na Revista Espírita de abril (1864). Dividi-se em dois campos de intervenção:


4.a) Experiências Doutrinárias: Com a mão pesada do mestre, é publicado o livro "O Céu e o Inferno", trazendo o mais extenso trabalho de campo de Kardec, coletânea-síntese de um esforço de pesquisa mediúnica, atendendo a necessidade de comprovar a viabilidade do método da "universalidade dos ensinos dos Espiritos" defendido no Evangelho Segundo o Espiritismo. Ao mesmo tempo, com o objetivo de revisar as teorias católicas-cristãs de destino do Homem, coloca o Espiritismo em posição de ataque, e não de defesa. Esta obra guarda, portanto, relação com a Fase de Lutas. A necessidade de concluir seu projeto metodológico personalíssimo, base da argumentação a favor da cientificidade do Espiritismo e da demonstração da posição privilegiada de Kardec para protetor e desenvolver o Espiritismo. Esta obra representa a "consolidação" do modelo doutrinário e o auge do modelo metodológico.

O último livro, A Gênese, expande a atitude espírita de revisão das teorias religiosas em direção aos textos bíblicos. Consolida, definitivamente, a referência histórica do Espiritismo com a tradição judaica-cristã-católica. Ao mesmo tempo, A Gênese representa a nova fase doutrinária, uma fase com os "olhos voltados para o futuro". Totalmente diferente metodologicamente, não utiliza-se do critério de "universalidade dos ensinos dos Espíritos", e só foi possível devido a superação da Fase de Lutas. Em A Gênese, Kardec se reinventa, produzindo uma obra de hipóteses para serem testadas pelos conhecimentos científicos futuros, comprometendo-se com temas tipicamente pertencentes ao campo das ciências clássicas. Nesta obra, Kardec abre janelas para uma nova fase doutrinária para o Espiritismo, explorando as possibilidades de produzir-se hipótese temporárias através da mediunidade, sinaliza que a fase de identificação das leis naturais e dos princípios doutrinários havia se esgotado.


4.b) Organização Institucional: Apesar de ações destinadas a organizar o movimento espírita ocorrerem durante toda esta fase, seus principais trabalhos são apresentados nos últimos anos de sua vida e nos primeiros meses após sua desencarnação. Acompanhando a Revista Espírita percebe-se a tentativa de definir, de forma mais precisa e administrativa, o papel e responsabilidades da Sociedade Parisiense e dos grupos espíritas periféricos, perante um movimento espírita robusto (o projeto para o Espiritismo, Catálogo Racional para uma Biblioteca Espírita, etc).

domingo, 29 de agosto de 2010

O Espiritismo em Teses e Dissertações

Recentemente foi compilado pelo pesquisador Tiago Paz (*) um caderno de resumos de 171 teses e dissertações sobre o Espiritismo defendidas em diferentes áreas do conhecimento e em diversas instituições de ensino superior no Brasil.

O download do arquivo e mais detalhes sobre este caderno podem ser obtidos acessando o link abaixo:

Caderno de Resumos - O Espiritismo em Teses e Dissertações (1982-2009)

(*) Tiago Paz é doutorando em Psicologia Social pela UERJ e tem colaborado com nossa rede de pesquisas.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Otília Diogo: estudo de caso

Otília Diogo foi a médium principal que esteve envolvida no caso das materializações de Uberaba em 1964. Repórteres da famosa revista "O Cruzeiro" participaram de uma sessão de materialização com a médium sob coordenação do doutor Waldo Vieira. Também estiveram presentes mais 13 médicos e o médium Chico Xavier.

A partir de então os repórteres iniciaram uma série de reportagens acusando a médium de fraude. Esta série teve grande repercussão nacional e o movimento espírita ficou bastante abalado.

Poucos espíritas saíram em defesa das sessões, dos médicos, e da própria médium. Destes o mais aguerrido foi o escritor e jornalista Jorge Rizzini que chegou a participar na época de sete programas de televisão. Logo depois ele publicou o livro "Otília Diogo e a Materialização de Uberaba".

Fora este livro pouco se tem escrito ou mesmo falado a respeito. Não é um assunto muito agradável uma vez que reconhecidamente a médium foi pega em fraude em 1970 e confessou que fraudava desde 1965. Mas a dúvida sobre a legitimidade da sessão com os repórteres persiste até hoje entre os espíritas.

Com o objetivo de esclarecer esta e outras dúvidas envolvendo o caso começamos um estudo que pretende ser amplo e imparcial. Estamos ainda na fase de busca de material para servir de base para o nosso estudo. Mas, já conseguimos bastante coisa:

  • Primeira e segunda edições (1964 e 1997) do livro do Jorge Rizzini
  • Alguns textos escritos a época pelo professor Herculano Pires (baixe aqui)
  • Algumas reportagens de "O Cruzeiro" (veja relação abaixo)
  • Capítulo do livro "The Flying Cow" escrito por Guy Lyon Playfair
  • Capítulo do livro "100 anos de Chico Xavier" escrito por Carlos Baccelli
  • Reportagem de Jorge Rizzini para o especial "Chico Xavier 60 anos de mediunidade" (baixe aqui)
  • Vídeo com Waldo Vieira falando sobre o caso (assista aqui: 24/04/2010)
  • Áudio com Waldo Vieira falando sobre o caso (ouça aqui: 04/12/2008, 14/12/2008, 10/05/2009, 04/03/2010)
  • Capítulo do livro "Crônicas de Um e de Outro - De Kennedy ao Homem Artificial" escrito por Luciano dos Anjos
  • Reportagem da revista "Reformador", edição de abril de 1999 (baixe aqui ou aqui)
  • Artigos de Jarbas Barbosa para o Anuário Espírita de 1964 e 1965 (baixe aqui e aqui)
  • Capítulo do livro "Arigó: A verdade que abala o Brasil" escrito por Moacyr Jorge
  • Reportagem e notas do CFN em "Reformador", edição de março de 1964 (baixe aqui)
  • Réplica dos médicos publicada na Revista Internacional do Espiritismo, edição de fevereiro de 1964 (baixe aqui)

Estamos tentando ainda falar com pessoas envolvidas no caso ou que podem contribuir para o esclarecimento dos fatos. Estamos abertos a colaboração (ou mesmo cooperação) de todos que puderem contribuir com jornais da época, com áudio e vídeos sobre o caso, com indicação de livros ou pessoas que possam ser entrevistadas.

Especificamente, temos um interesse especial em reportagens de "O Reformador" sobre o caso e das edições de "O Cruzeiro" que ainda nos faltam (ver relação abaixo). Também é interessante jornais da época nas cidades de Uberaba, Andradas, Cosmópolis, e Campinas. Ainda mais especificamente estamos a procura de um folheto sobre o caso publicado a época pelo Grupo Espírita Emmanuel de Garça.

Agradecemos a todas as pessoas que estão colaborando e desde já a todas que pretendem colaborar.

Contato: Vital Cruvinel (vital.cruvinel@gmail.com)

Relação de reportagens de "O Cruzeiro"